Gestalt-Terapia Através da Explanação de Seus Métodos


RESUMO

            Este trabalho visou salientar a prática da Gestalt-terapia através da explanação de seus métodos, conceitos e nuances aplicados à síndrome do pânico. Fez parte da nossa intenção não somente percorrer os ditames desse tipo de terapia, mas também aliá-los a um sentido realmente prático, que possa clarificar a sua consistência no que concerne a estados que provoquem desequilíbrios, como o de pânico.
            A escolha do tema partiu de intenso interesse e curiosidade em conhecer tal abordagem devido seu caráter sensível e acolhedor, remetendo-nos a uma visão de homem especialmente singular e total. É inegável o teor atrativo dessa forma de considerar o ser humano, trazendo conceitos como conscientização, contato e movimento imbuídos de acepções peculiares, comprometidas com o bem-estar psíquico como um todo, a partir das experiências levadas ao consultório.
Objetivando tornar mais estreita a linha que nos divisa de tal prática, bem como explorar a genuína ênfase dedicada ao ser humano, elegemos como meio explorador para essa questão a síndrome do pânico. Por esta consistir em uma inadaptação repentina à realidade vivenciada, fazendo vir à tona uma carga impetuosa de ansiedade, além de diversos sintomas físicos, é que se faz necessário o auxílio cauteloso da Gestalt-terapia, em uma tentativa de conduzir sutilmente o paciente a uma melhor maneira de lidar com seus dramas.
No intuito de conferir maior autenticidade e transparência à temática em questão fomos ao encontro de uma Psicóloga Gestalt-terapeuta, formada pelo Instituto Gestalt do Ceará. Por meio de entrevista aberta, a profissional contribuiu em demasia para a explanação de seu trabalho, enfatizando pontos importantes de sua abordagem. Portanto, pudemos explorar diversos aspectos relacionados à sua atuação, além de firmar ainda mais nosso conhecimento acerca da Psicologia Humanista.

GESTALT-TERAPIA: NORTE MULTIDIRECIONADO

            A Gestalt-terapia surgiu da confluência de áreas como psicanálise, existencialismo, fenomenologia e psicologia da Gestalt. Trata-se de uma maneira de olhar o ser humano baseada nas suas experiências, todas detentoras de um sentido peculiar, permitindo-lhe conscientizar-se disso a fim de fazer as escolhas que considerar mais apropriadas para si.
            Frederick Perls representa a fundação da Gestalt-terapia, por volta da segunda metade do século XX, já que fundamentou teoricamente em que consistia a referida prática. Psiquiatra alemão com posterior direcionamento psicanalítico, ficou mais conhecido como Fritz Perls. Após afastar-se da psicanálise, Perls desenvolveu idéias alicerçadoras de um modo inédito de se aplicar psicologia, baseado na estreita relação entre o terapeuta e seu cliente. Essa proximidade ganhava valor na lógica de que é necessário que o profissional disponha de sensibilidade ao estar junto do paciente, procurar vivenciar a dificuldade que lhe é trazida, a fim de conferir sentido àquela relação. É principalmente nesse aspecto que tal prática vai se diferenciar da psicanálise, já que esta constrói um afastamento em relação ao paciente.
            Perls pregava que o sujeito deve valorizar o aqui e agora como fruto de sua vivência atual, não apagando o passado tampouco desalentando o futuro, porém revestindo o presente de um sentido reforçador das experiências vividas.
 Há também a concepção de considerar o homem como um todo, despedindo-se da separação corpo/mente, interior/exterior, onde ações, falas e gestos têm condições de fornecerem informações desse sujeito, respaldando o seu movimento experiencial.
Uma outra premissa refere-se ao fato de importar verdadeiramente como as situações são sentidas em detrimento de suas causas.  Dedicar esforços a fim de saber o porquê de determinado comportamento não oferece auxílio para compreendê-lo, pois diversas causas contribuem para isso e descobri-las é uma maneira de fugir do real contexto em que o comportamento é expresso no sujeito.  
As três proposições citadas constituem a matriz da Gestalt-terapia e são essenciais para a conscientização, processo necessário para o sujeito atribuir significado às suas experiências, aliando-as ao ambiente em que está inserido. Não há crescimento isolado dessa atitude consciente, já que para compreender mais de si e do modo pelo qual a realidade se apresenta, é necessário que o indivíduo esteja atento a tudo o que lhe circunda, fazendo brotar uma constante atualização do seu lugar no mundo. A descrição das experiências vividas é parte integrante do processo terapêutico, vindo de uma perspectiva fenomenológica que procura dar autonomia ao sujeito no sentido de se responsabilizar por tudo o que é dito, pensado, vivido.
Perls também desenvolveu um conceito da Psicologia da Gestalt com o intuito de subjetivar ainda mais a maneira como o sujeito lida com suas vivências. Trata-se da noção de figura-fundo, onde as percepções são valorizadas à medida que se tem um contato direto com o meio ambiente. Figura e fundo constituem assimilações diferenciadas do que é vivido, levando em consideração as necessidades apresentadas e o significado que cada situação provoca no sujeito. Por conseguinte, a conscientização adquire um papel extremamente crucial na vida do indivíduo.
Somando-se a todas as colocações referidas está a capacidade de fazer escolhas. Este é um ponto que confere responsabilidade ao indivíduo, atribuindo-lhe a missão de direcionar a sua vida. Assim é aberta a porta para a busca do equilíbrio, este sendo resultado de experiências positivas e negativas, bem como de escolhas conscientes, dadas as diversas possibilidades existentes. É nesse sentido que o gestat-terapeuta vai auxiliar o paciente, procurando explorar todos os aspectos citados, além de estabelecer um terreno propício para uma relação harmoniosa, utilizando-se da redução fenomenológica com o intuito de se aproximar de seu paciente, num movimento de constante descoberta de si e daquele.
Após essa breve exposição dos fundamentos da Gestalt-terapia, gostaríamos de salientar uma particularidade intrínseca à sua maneira de atuação. À medida que cria condições para direcionar o crescimento psíquico do sujeito, não há uma rota fixa para se atingir o equilíbrio, ou seja, o norte proposto é multidirecionado, já que o próprio sujeito escolhe o que lhe parecer mais conveniente.

A SÍNDROME DO PÂNICO E A GESTALT-TERAPIA

            A entrevista com uma Gestalt-terapeuta proporcionou maior profundidade ao nosso trabalho, à medida que a prática em questão pôde ser melhor explanada.
            Relatou que a síndrome ou transtorno do pânico é uma situação repentina de completa aversão a diversos tipos de fatores, como dirigir, estar perto de multidão, passar mal etc. As crises asseveram-se quando o pavor é de tornarem a acontecer, levando ao medo de ocorrerem novas crises, medo de ter medo, de morrer e outras formas de preocupação. Os sintomas físicos também são manifestados: taquicardia, dermatites, problemas gástricos, sudorese, tremores, náuseas e outros estados de incômodo. Na maioria dos casos, o terapeuta trabalha junto com o psiquiatra, ambos mantendo contato para acompanhar melhor o paciente.
            Primeiramente, deve-se estabelecer um vínculo de confiança, em que o paciente sinta-se seguro diante do terapeuta, pertencente a uma relação que lhe permita ser quem realmente é, demonstrando suas fraquezas e expectativas. A terapeuta ponderou que é importante ouvir o paciente com atenção e, quando necessário, fazer determinadas intervenções que possibilitem desvendar o que, de fato, está acontecendo. Esclareceu que muitas vezes há pessoas que têm medo de ir à terapia, porém, com o vínculo harmonioso estabelecido com o psicólogo, a relutância diminui consideravelmente.
            Respaldando os princípios da Gestalt-terapia, enfatizou que é necessário saber e explorar como é sentido o problema, qual o sofrimento proporcionado. O interesse nas causas não fará diferença na freqüência do comportamento, tampouco no mal-estar experimentado. Ponderou ser necessária bastante sensibilidade para conduzir a relação a um encontro do paciente consigo mesmo, oferecendo-lhe a chance de potencializar a capacidade de fazer escolhas. Às vezes faz sugestões no intuito de auxiliar o sujeito a desafiar-se para entrar em contato com o que lhe aflige, por exemplo: se for relatado o medo de dormir só e do escuro, fazendo com que a pessoa só durma acompanhada e com todas as luzes acesas, é sugerido que a pessoa tente dormir com a luz apagada e assim por diante. Quando o sujeito percebe que têm condições de trabalhar com seus temores, a terapia obtém muito mais sentido.
            Ponderou que há casos em que o paciente já chega ao consultório com seu diagnóstico, referenciando a síndrome do pânico, quando, na verdade, está carente de atenção e desenvolve esse quadro para si a fim de ser tratado com cuidado pelas pessoas à sua volta. Eis aí um momento em que o terapeuta deve explorar ao máximo o contexto que envolve o paciente para poder sugerir que não se trata da síndrome auto-atribuída.
            Portanto, cada sujeito é um universo peculiar a ser explorado e não só em relação ao pânico, mas a tudo o que for trazido à consulta, cabe ao terapeuta abrir espaço para fazer com que o indivíduo sinta-se à vontade, conscientizando-se da maneira como lida com suas dificuldades, delegando-lhe a responsabilidade de arcar com suas escolhas. 

CONCLUSÃO

            Aproximar-nos da Gestalt-terapia dedicou condições para fecundar nosso interesse acerca das práticas psicológicas humanistas, de maneira que pudemos compreender um pouco mais acerca da aplicação de sua teoria partindo do direcionamento para o transtorno do pânico. As aulas acadêmicas, o material teórico, além da entrevista com uma gestalt-terapeuta ofereceu-nos artifícios essenciais para podermos assegurar a demasiada ênfase que é dedicada ao ser humano como um todo.


BIBLIOGRAFIA

FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Frederick S. Perls e a Gestalt-terapia. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1986.cap. 5, p.126-147.
PORTO, José Alberto Del. Crises de pânico. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA, São Paulo, v.62, p. 39-43, dez. 2005. Edição especial.