Pensar Rápido ou Devagar: Eis a Questão
Diversas pesquisas em Psicologia têm demonstrado que alguns dos nossos pensamentos são extremamente rápidos, impulsivos por assim dizer, e geralmente um carregados de emoção. Pense nas vezes que você fez um julgamento precipitado, falou algo que se arrependeu depois, enviou um e-mail desaforado, comprou alguma coisa que não precisava no calor do momento ou então gritou com seus filhos ou outra pessoa que você ama. Com certeza você já fez coisas desse tipo – todos nós fazemos.
Por outro lado, também temos outro tipo de pensamentos, que são mais frios, lentos e deliberados. Às vezes, chegamos inclusive a pensar sobre nossos próprios pensamentos de forma reflexiva e construtiva, sem nos preocuparmos desnecessariamente com o conteúdo eles! Certamente você é capaz de lembrar de vezes em que você foi contemplativo, pesou as evidências ao tomar uma decisão, pesquisou na Internet antes de fazer uma compra ou buscou esclarecimentos antes de afirmar que alguém estava sendo desonesto com você.
Nós realmente precisamos de ambas formas de pensar. Pensamentos rápidos são absolutamente necessários para automatizar a realização de tarefas rotineiras, de modo que possamos investir nossa capacidade mental em outras atividades mais demandantes. Pensamentos lentos, por seu turno, são imprescindíveis para fazermos julgamentos mais acurados e agirmos de forma adaptativa nas situações complexas da vida (aquelas em que muitos fatores importantes estão em jogo).
O problema é que os pensamentos rápidos, por geralmente serem mais baseados na emoção do que na razão, às vezes podem colocar você em apuros. Isso, provavelmente, é o que acontece com você nas situações que lhe incomodam: você é muito rápida em tecer comentários auto-críticos para si mesma, ou ligeira demais em julgar uma situação como uma ameaça ao seu bem estar físico ou psicológico. Devido ao fato do pensamento rápido, via de regra, ser baseado em suas experiências do passado e dirigido por emoções escondidas, nem sempre você terá consciência da origem desses pensamentos que povoam sua mente.
Suponha que você diga para si mesma: “ser gorda é nojento” – esse é o seu pensamento automático ao olhar-se no espelho. De onde veio tal pensamento rápido e quente? Não há como saber com certeza, mas provavelmente sua origem está relacionada a todas vezes que você foi alvo de chacota ou vítima de bulliyng, ou das ocasiões que admirou com inveja as fotos de estrelas da TV ou modelos magras e pensou que você poderia ser como elas, ou talvez você tenha passado pela constrangedora situação em uma loja ao tentar provar uma calça jeans que claramente não cabia em você. Todas essas emoções negativas são armazenadas em nossa memória – não de maneira precisa e associada a uma lembrança específica, mas como registros negativos genéricos. Estes registros, por sua vez, passam a funcionar como uma espécie lente através da qual vemos o mundo, dando o “colorido” (ou falta dele) às experiências atuais.
Assim, não faz sentido dar a você orientações do tipo “pare de ter esses pensamentos negativos!”, pois eles são automáticos, involuntários e constituem parte integral do funcionamento psicológico normal. Por outro lado, o que faz sentido é, deliberadamente, tentar equilibrar esses pensamentos rápidos e quentes com outros pensamentos mais lentos, mais frios, mais reflexivos, mais racionais e mais baseados na realidade no contexto do momento.
Antes de iniciar essa busca, vale a pena conhecer outro fato bem documentado nas pesquisas científicas da Psicologia: quando você está de mau humor, pessimista, se sentido deprimido ou algo que o valha… adivinhe! O esquema negativo que você tem sobre si fica mais forte e seus pensamentos automáticos auto-críticos tornam-se mais frequentes.
Essa é a maldição da mente humana: pensamentos ruins fazem com que outros pensamentos ruins sejam mais prováveis de ocorrer. Pesquisadores do estresse afirmam: “zebras não têm úlceras”! Por quê? Porque entre um e outro episódio de perigo real – como ser perseguida por um leão – elas não estão ruminando negativamente sobre suas experiências, lamentando por não terem comido mais daquele pasto nutritivo ou culpando suas mães por não tê-las treinado para correr mais rápido… Consegue perceber a diferença em relação a sua forma de encarar a vida?
A boa notícia a respeito do funcionamento da mente humana é que, da mesma forma que pensamentos negativos atuais facilitam a ocorrência de novos pensamentos negativos, a presença de pensamentos (realisticamente) positivos favorece o surgimento de outros pensamentos positivos. Em outras palavras, é possível transformar o círculo vicioso em um círculo virtuoso. O esforço, assim como a recompensa, é grande.
Baseado em: Evans, I. M. (2015). How and why thoughts change. New York: Oxford University Press.