Lidando com a Depressão

Sinais de Depressão

“Minha es­posa me deixou porque eu não era bom o bas­tante para ela. Não vou con­se­guir viver sem ela.”
“Meu ca­belo esta caindo. Estou fi­cando feia. Nin­guém vai se im­portar mais co­migo.”
“Eu não presto como se­cre­tária. Meu chefe só não me des­pede porque tem pena de mim. Nada que eu tente fazer da certo.”
Estes são pen­sa­mentos tí­picos de pes­soas que se sentem de­pri­midas. Em­bora estas no­ções pa­reçam cor­retas na su­per­fície, na ver­dade elas mos­tram uma mu­dança na ma­neira em que a pessoa passou a pensar em si mesma. Uma ca­rac­te­rís­tica chave da de­pressão é uma mu­dança – na ma­neira de pensar, de sentir e de agir. Mesmo que essa mu­dança ocorra gra­du­al­mente, a pessoa de­pri­mida é di­fe­rente da­quela que era antes do co­meço da sua do­ença – é pos­sível que ela venha a ser até o oposto do que era nor­mal­mente. Existem muitos exem­plos dessa mu­dança: o em­pre­sário bem su­ce­dido que acre­dita estar à beira da fa­lência, a mãe de­di­cada que quer aban­donar seus fi­lhos, o gourmet que não agüenta co­mida, o playboy que passa a sentir nojo de sexo. Em vez de pro­curar o prazer, a pessoa de­pri­mida o evita… Em vez de cuidar de si mesma, ela se des­leixa e não cuida mais da sua apa­rência. Os seus ins­tintos de so­bre­vi­vência podem dar lugar a um de­sejo de ter­minar sua vida. Sua mo­ti­vação para ter su­cesso pode ser subs­ti­tuída por pas­si­vi­dade e recuo.
O sinal mais óbvio e tí­pico de de­pressão é um humor triste: me­lan­có­lico, so­li­tário, apá­tico. A pessoa de­pri­mida pode se ver cho­rando mesmo quando não exista razão apa­rente para isso ou pode ser in­capaz de chorar quando algo re­al­mente triste acon­tece. Pode ter di­fi­cul­dade em dormir ou acorda cedo de ma­dru­gada sem poder voltar a dormir. Por outro lado, por sentir-se can­sada o tempo todo, é pos­sível que durma mais do que o normal. Ela po­derá perder o ape­tite e perder peso ou, comer mais do que o normal e en­gordar.
Ti­pi­ca­mente, a pessoa de­pri­mida se vê de uma ma­neira muito ne­ga­tiva. É pos­sível que ela acre­dite que está de­sam­pa­rada e so­zinha no mundo e freqüen­te­mente se culpe por fa­lhas ou de­feitos tri­viais. Ela tem uma visão pes­si­mista de si mesma, do mundo e do seu fu­turo. Ela perde in­te­resse no que esta acon­te­cendo a seu redor e não sente sa­tis­fação em ati­vi­dades das quais cos­tu­mava gostar. Muitas vezes, ela tem di­fi­cul­dade em tomar de­ci­sões ou em con­se­guir agir con­forme de­ci­sões que tenha to­mado.
Al­gumas pes­soas podem estar de­pri­midas sem mos­trar os sen­ti­mentos ha­bi­tuais de tris­teza, humor va­ci­lante e de­sâ­nimo. Em vez disso, é pos­sível que elas se queixem de dor fí­sica ou que so­fram de al­co­o­lismo ou vício de al­guma droga ou re­médio. Quando uma pessoa pa­rece sempre can­sada ou en­te­diada com o que está fa­zendo, pos­si­vel­mente es­teja de fato de­pri­mida. Quando cri­anças es­pertas passam a ter um de­sem­penho ruim na es­cola du­rante um certo tempo, isto também pode ser um in­di­ca­tivo de de­pressão. Existe até evi­dência que uma cri­ança de­ma­si­a­da­mente ativa possa estar com­pen­sando por uma de­pressão sub­ja­cente.

Pesquisa Revela Novos Entendimentos

É muito comum que as pes­soas de­pri­midas acre­ditem ter per­dido algo im­por­tante, em­bora freqüen­te­mente este não seja o caso. A pessoa de­pri­mida acre­dita que é uma “per­de­dora” e que sempre será uma “per­de­dora”, que ela cer­ta­mente não tem valor, que é ruim e que pos­si­vel­mente não es­teja apta para viver. Po­derá in­clu­sive tentar co­meter sui­cídio.
Re­cen­te­mente, um pro­jeto pes­qui­sado du­rante 10 anos e apoiado pelo Ins­ti­tuto Na­ci­onal de Saúde Mental dos EUA pro­curou ex­plicar a per­sis­tência destes sen­ti­mentos de­sa­gra­dá­veis em pes­soas de­pri­midas. Estes pes­qui­sa­dores des­co­briram que um fator im­por­tante é que pes­soas de­pri­midas in­ter­pretam in­cor­re­ta­mente muitas si­tu­a­ções. O que ela pensa sobre o que ocorre ao seu redor afeta como ela se sente. Em ou­tras pa­la­vras, a pessoa de­pri­mida se sente triste e so­zinha porque pensa in­cor­re­ta­mente que é inapta e que está aban­do­nada.
É pos­sível então, ajudar um pa­ci­ente de­pri­mido mu­dando sua ma­neira er­rada de pensar, em vez de con­cen­trar no seu humor de­pri­mido.
Nos nossos es­tudos, temos des­co­berto que, não obs­tante a baixa opi­nião que têm de si mesmas, o de­sem­penho de pes­soas de­pri­midas é tão bom quanto o de pes­soas nor­mais numa série de ta­refas com­plexas. Num es­tudo, demos a pa­ci­entes de­pri­midos uma série de testes de lei­tura, com­pre­ensão e de auto-ex­pressão de di­fi­cul­dade cres­cente. A me­dida que os pa­ci­entes co­me­çaram a sentir êxito, eles co­me­çaram a se sentir mais oti­mistas. O humor e a imagem de si mesmos me­lho­raram. É in­te­res­sante notar que eles até se de­sem­pe­nharam me­lhor quando pe­dimos pos­te­ri­or­mente que ten­tassem ou­tros testes.

Pensamentos e Depressão

Estas des­co­bertas su­gerem novas prá­ticas para tratar de­pressão e novas ma­neiras pelas quais a pessoa de­pri­mida possa aprender a se ajudar.
Como re­sul­tado destes es­tudos, os psi­co­te­ra­peutas se in­te­ressam agora por os tipos de de­cla­ra­ções que as pes­soas se fazem – quer dizer, com o que elas pensam. Temos des­co­berto que pes­soas de­pri­midas con­ti­nu­a­mente tem pen­sa­mentos de­sa­gra­dá­veis e que o sen­ti­mento de de­pressão au­menta com cada pen­sa­mento ne­ga­tivo. No en­tanto, estes pen­sa­mentos ge­ral­mente não são ba­se­ados em fatos reais e fazem com que a pessoa se sinta triste mesmo quando não há ne­nhuma razão ob­je­tiva para que se sinta dessa ma­neira. O pen­sa­mento ne­ga­tivo pode im­pedir o pa­ci­ente de­pri­mido de par­ti­cipar em ati­vi­dades que vão lhe fazer sentir me­lhor. Como re­sul­tado disto, é pos­sível que ex­pe­ri­mente pen­sa­mentos se­veros e crí­ticos dele ser “pre­gui­çoso” ou “ir­res­pon­sável”, o que o fazem se sentir pior ainda.
Para poder en­tender este modo de pensar er­rôneo, con­si­dere o pró­ximo exemplo. Di­gamos que você está ca­mi­nhando pela rua e vê um amigo seu que pa­rece estar ig­no­rando você to­tal­mente. Na­tu­ral­mente você se sente triste. Você po­derá se per­guntar porque seu amigo não gosta mais de você. Mais tarde, você men­ciona o in­ci­dente ao seu amigo que diz que es­tava tão pre­o­cu­pado na­quele mo­mento que nem tinha visto você. Nor­mal­mente, você se sen­tirá me­lhor e dei­xará de pensar no as­sunto. No en­tanto, se você está de­pri­mido, você pro­va­vel­mente acre­di­tará que seus amigos estão re­al­mente re­jei­tando você. Você pos­si­vel­mente não lhe per­gun­tará sobre o in­ci­dente, dei­xando que o en­gano con­tinue. Pes­soas de­pri­midas co­metem estes erros o todo tempo. In­clu­sive, podem in­ter­pretar mal uma ten­ta­tiva de apro­xi­mação e achar que se trata de uma re­jeição. Elas tem a ten­dência de ver o lado ne­ga­tivo das coisas em vez do po­si­tivo. E elas não con­ferem para de­ter­minar se fi­zeram um erro in­ter­pre­tando os acon­te­ci­mentos.
Se você está de­pri­mido, muitos dos seus sen­ti­mentos ruins são ba­se­ados em erros na ma­neira de pensar. Estes erros se re­ferem à ma­neira em que você pensa sobre si mesmo e à ma­neira que você julga coisas que acon­tecem a você.
No en­tanto, você tem muitas ha­bi­li­dades e po­derá ser bom re­sol­vendo pro­blemas em ou­tras áreas. Na ver­dade, você tem re­sol­vido pro­blemas toda sua vida. Como um ci­en­tista, você pode aprender a usar seus po­deres de ra­ci­o­cínio e seu in­te­lecto para “testar” seu modo de pensar e ver se é re­a­lista. Desta ma­neira, você pode im­pedir de se sentir mal com cada ex­pe­ri­ência que lhe pa­reça ser de­sa­gra­dável à pri­meira vista.
Você pode se ajudar (1) re­co­nhe­cendo seus pen­sa­mentos ne­ga­tivos, e (2) cor­ri­gindo-os e subs­ti­tuindo-os por pen­sa­mentos mais re­a­listas.

Lista para Conferir os Pensamentos Negativos

Quando você re­parar que está se sen­tindo um tanto mais triste, pense e tente lem­brar que pen­sa­mento causou ou au­mentou seu sen­ti­mento de tris­teza. Este pen­sa­mento pode ser uma re­ação a al­guma coisa que acabou de acon­tecer, du­rante a úl­tima hora ou os úl­timos poucos mi­nutos ou pode ser uma lem­brança de um acon­te­ci­mento pas­sado. O pen­sa­mento pode conter um ou mais dos temas se­guintes:
(1) Opi­nião Ne­ga­tiva de Si Mesmo. Freqüen­te­mente esta noção surge do fato de você se com­parar com ou­tras pes­soas que pa­recem ser mais atra­entes ou mais bem su­ce­didas ou mais ca­pazes ou in­te­li­gentes: “Eu sou bem pior aluno do que João,” “eu fa­lhei como pai,” “eu sou to­tal­mente in­capaz de julgar ou de usar meu juízo.” É pos­sível que você passe a se pre­o­cupar com estas idéias sobre si mesmo, ou que fique pen­sando em acon­te­ci­mentos do pas­sado quando as pes­soas pa­re­ciam não gostar de você ou des­prezar você. Você pode se achar sem valor ou um peso e as­sumir que amigos e fa­mi­li­ares fi­carão con­tentes em se li­vrar de você.
(2) Au­to­crí­tica e Auto-re­cri­mi­nação. A pessoa de­pri­mida se sente triste porque ela fo­ca­liza sua atenção no que ela pre­sume ser suas fa­lhas. Ela se culpa por não ter feito um tra­balho tão bem quanto acha que devia ter feito, por ter dito a coisa er­rada ou por causar pro­blemas aos ou­tros. Quando as coisas vão mal, é pos­sível que a pessoa de­pri­mida de­cida que é sua culpa. Até acon­te­ci­mentos fe­lizes po­derão lhe fazer sentir pior se você pensar, “Eu não me­reço isto. Eu não sou digno disto.”
Porque sua opi­nião de si mesma é tão baixa que você po­derá se fazer exi­gên­cias exa­ge­radas. Você po­derá exigir de si mesma que seja uma dona de casa per­feita ou uma amiga de­di­cada a todo ins­tante ou uma mé­dica que nunca erra no seu di­ag­nos­tico. Você po­derá se abater pen­sando, “eu de­veria ter feito um tra­balho me­lhor.”
(3) In­ter­pre­ta­ções Ne­ga­tivas dos Acon­te­ci­mentos. Con­ti­nu­a­mente, você po­derá se achar res­pon­dendo de ma­neira ne­ga­tiva a si­tu­a­ções que não lhe abor­recem quando não está de­pri­mido. Se você tem di­fi­cul­dade em achar um lápis, po­derá pensar, “tudo me é di­fícil.” Quando você gasta um pouco de di­nheiro po­derá se sentir cha­teado, como se ti­vesse per­dido uma grande quantia de di­nheiro. Po­derá ler de­sa­pro­vação nos co­men­tá­rios que ou­tras pes­soas fazem, ou de­cidir que se­cre­ta­mente elas não gostam de você – apesar delas agirem da mesma ma­neira ami­gável de sempre.
(4) Ex­pec­ta­tivas Ne­ga­tivas do Fu­turo. Você po­derá ter caído no há­bito de pensar que nunca vai poder su­perar sua an­gústia ou seus pro­blemas e acre­ditar que eles vão durar para sempre. Ou po­derá ter an­te­ci­pa­ções ne­ga­tivas sempre que tentar fazer um tra­balho es­pe­cí­fico: “Tenho cer­teza que vou fa­lhar nisso.” Uma mu­lher de­pri­mida se vi­su­a­li­zava es­tra­gando o jantar sempre que co­zi­nhava para con­vi­dados. Um homem com uma fa­mília para sus­tentar se ima­gi­nava sendo des­pe­dido pelo seu em­pre­gador por causa de algum erro. A pessoa de­pri­mida tende a aceitar sua falha e in­fe­li­ci­dade fu­turas como ine­vi­tá­veis e po­derá se dizer que é inútil tentar com que faça sua vida me­lhorar.
(5) “Mi­nhas res­pon­sa­bi­li­dades são Es­ma­ga­doras.” Você tem os mesmos tipos de ta­refas a fazer em casa ou no tra­balho que já fez muitas vezes antes, mas agora acre­dita que é com­ple­ta­mente in­capaz de fazê-las ou que le­vará se­manas ou meses para com­pletá-las. Ou se diz que tem tantas coisas para fazer que não há como or­ga­nizar o tra­balho.
Al­gumas pes­soas de­pri­midas se negam des­canso ou tempo para de­dicar-se a in­te­resses pes­soais por causa de obri­ga­ções que vêm como ur­gentes lhes ata­cando por todos os lados. Podem até sentir as sen­sa­ções fí­sicas que acom­pa­nham tais pen­sa­mentos sen­sa­ções de falta de ar, náusea, ou dores de ca­beça.

O Que É Melhor Saber a Respeito de Pensamentos Negativos

No co­meço deste fo­lheto, demos exem­plos de pen­sa­mentos de pes­soas que estão num es­tado de­pres­sivo. Uma pessoa não de­pri­mida po­derá oca­si­o­nal­mente ter tais pen­sa­mentos mas ge­ral­mente os dis­pensa da sua mente. Mas a pessoa de­pri­mida os tem o todo tempo sempre que pensa no seu valor ou ha­bi­li­dade ou o que po­derá apro­veitar da sua vida. Estas são al­gumas das ma­neiras de re­co­nhecer pen­sa­mentos de­pres­sivos:
(1) Os pen­sa­mentos ne­ga­tivos tendem a ser au­to­má­ticos. Não se chega a eles na base da razão ou da ló­gica eles sim­ples­mente ocorrem. Estes pen­sa­mentos se ba­seiam na baixa opi­nião que pes­soas de­pri­midas tem de si mesmas, em vez de se ba­se­arem na re­a­li­dade.
(2) Os pen­sa­mentos são ir­ra­ci­o­nais e não têm ne­nhuma uti­li­dade. Eles fazem você se sentir pior e im­pedem que você con­siga o que re­al­mente quer da sua vida. Se você os con­si­derar cui­da­do­sa­mente, pro­va­vel­mente vai se dar conta de que con­cluiu algo que não é ver­da­dei­ra­mente exato. Seu psi­co­te­ra­peuta po­derá lhe mos­trar como seus pen­sa­mentos são ir­ra­ci­o­nais.
(3) Apesar destes pen­sa­mentos serem ir­ra­ci­o­nais, eles pro­va­vel­mente apa­rentam ser per­fei­ta­mente plau­sí­veis no mo­mento em que você os tem. Eles ge­ral­mente são aceitos como ra­zoá­veis e cor­retos, bem como um pen­sa­mento re­a­lista do tipo, “O te­le­fone esta to­cando… devo atender.”
(4) Quanto mais a pessoa acre­ditar nestes pen­sa­mentos ne­ga­tivos (quer dizer, quanto mais ela os aceitar sem cri­ticá-los), pior se sen­tirá.
Se você se deixar afundar sob o do­mínio destes pen­sa­mentos, você pas­sará a in­ter­pretar tudo de ma­neira ne­ga­tiva. Você terá a ten­dência de cada vez mais de­sistir já que tudo pa­rece sem es­pe­rança. Mas de­sistir é no­civo porque pes­soas de­pri­midas freqüen­te­mente in­ter­pretam o fato de que de­sis­tiram como mais um sinal de in­fe­ri­o­ri­dade e de falha.
Você pode se ajudar apren­dendo a re­co­nhecer seus pen­sa­mentos ne­ga­tivos e en­ten­dendo porque eles são in­cor­retos e iló­gicos. Con­fira as ca­rac­te­rís­ticas des­critas acima e veja quanto elas se en­caixam nos seus pen­sa­mentos ne­ga­tivos.

Erros Típicos no Modo de Pensar

O pen­sa­mento er­rôneo leva e agrava a de­pressão. Você pro­va­vel­mente faz um ou mais dos erros que se­guem. Leia-os e veja quais se aplicam.
(1) Exa­ge­rando. Você en­cara certos acon­te­ci­mentos de ma­neira ex­trema. Por exemplo, se você esta tendo uma di­fi­cul­dade co­ti­diana, você co­meça a pensar que ter­mi­nará em de­sastre você exa­gera pro­blemas e o pos­sível dano que eles podem lhe causar. Ao mesmo tempo, você su­bes­tima sua ha­bi­li­dade de tratar deles. Você chega a con­clu­sões sem ne­nhuma evi­dência e acre­dita que elas são cor­retas. Um homem que in­vestiu suas eco­no­mias numa casa nova sus­pei­tava que ela tinha cu­pins. Ime­di­a­ta­mente con­cluiu que a casa ia cair aos pe­daços e perder todo valor, com todo seu di­nheiro des­per­di­çado. Es­tava con­ven­cido que nada podia ser feito para “salvar a casa”.
(2) Ge­ne­ra­li­zando. Você faz uma afir­mação ampla e geral que dá ên­fase ao ne­ga­tivo: “Nin­guém gosta de mim”. “Sou um fra­casso total”. “Eu nunca con­sigo o que quero da vida”. ”Se algum co­nhe­cido lhe dá um fora, você pensa: “Estou per­dendo todos meus amigos”.
(3) Des­qua­li­fi­cando o Po­si­tivo. Você se im­pres­siona e só se lembra de acon­te­ci­mentos ne­ga­tivos. Quando uma mu­lher de­pri­mida foi acon­se­lhada a manter um diário, elas se deu conta de que muitas coisas po­si­tivas acon­tecem freqüen­te­mente mas que ela tinha ten­dência a não prestar atenção e de se es­quecer delas. Ou ela se dizia que as boas ex­pe­ri­ên­cias não eram im­por­tantes por uma razão ou outra.
Um homem que du­rante se­manas es­tava de­pri­mido de­mais para se vestir passou oito horas pin­tando um quarto. Quando ter­minou, es­tava in­sa­tis­feito porque não tinha con­se­guido
exa­ta­mente os re­sul­tados que queria. Fe­liz­mente, sua es­posa con­se­guiu fazer com que ele se desse conta de que seu tra­balho tinha sido ad­mi­ra­vel­mente bom.
Por outro lado, é pos­sível que você tenha a ten­dência a ver acon­te­ci­mentos po­si­tivos como perdas. Por exemplo, uma moça de­pri­mida re­cebeu uma carta do seu na­mo­rado que ela de­cidiu ser uma carta de re­jeição. Muito triste, ela ter­minou com ele. Um tempo de­pois, quando não es­tava mais de­pri­mida, ela releu a carta e se deu conta que não havia nela nada sobre re­jeição. O que ela havia re­ce­bido não era uma carta de re­jeição mais sim de amor.

O que Fazer

(1) Pro­grama Diário de Ati­vi­dades. Tente pro­gramar ati­vi­dades que ocupem cada hora do seu dia. (Vide o for­mu­lário es­pe­cial para Pro­grama Se­manal de Ati­vi­dades).
Faça uma lista de itens que pla­neja efe­tuar em cada mo­mento do dia. Co­mece com os mais fá­ceis e de­pois pro­grida para os mais di­fí­ceis. Marque cada ati­vi­dade à me­dida que você a com­pleta usando-o como um re­gistro cor­rente de suas ex­pe­ri­ên­cias de do­mínio e de sa­tis­fação.
(2) O Mé­todo de “Do­mínio e Prazer”. Há mais coisas “fun­ci­o­nando” para você do que você ge­ral­mente está a par. Es­creva todos os acon­te­ci­mentos do dia e as­si­nale todos que re­que­reram algum tipo de do­mínio sobre a si­tu­ação com a letra “D” e todos que lhe trou­xeram algum prazer com a letra “P”.
(3) O A.B.C. de Sen­ti­mentos Mu­tá­veis. A mai­oria das pes­soas de­pri­midas acre­dita que a si­tu­ação de suas vidas é tão ruim que é na­tural que se sintam tristes. Na ver­dade, seus sen­ti­mentos de­rivam da­quilo que você pensa e de como você in­ter­preta o que lhe acon­teceu.
Se você pensar cui­da­do­sa­mente sobre um acon­te­ci­mento re­cente que lhe abor­receu e en­tris­teceu, você deve poder di­fe­ren­ciar três partes do pro­blema:
A. O acon­te­ci­mento
B. Seus pen­sa­mentos
C. Seus sen­ti­mentos
A mai­oria das pes­soas ge­ral­mente está a par so­mente dos pontos A e C.
A. Su­ponha, por exemplo, que sua es­posa es­queceu de seu ani­ver­sário.
B. Você se sente ma­goado, de­sa­pon­tado e triste.
C. O que re­al­mente está fa­zendo você triste é o sig­ni­fi­cado que você está pondo nos acon­te­ci­mentos:
Você pensa “O es­que­ci­mento da minha es­posa sig­ni­fica que ela não me ama mais”. “Eu não sou mais atra­ente para ela e para os de­mais”. Você pode até pensar que sem a apro­vação e ad­mi­ração dela você nunca po­derá ser feliz ou estar sa­tis­feito. No en­tanto, é bem pos­sível que sua es­posa es­tava sim­ples­mente ocu­pada ou que não com­par­tilha o seu en­tu­si­asmo por ani­ver­sá­rios. Você esta so­frendo por causa de sua con­clusão sem fun­da­mentos não por causa do acon­te­ci­mento em si.
(4) Se você tiver um sen­ti­mento triste, re­con­si­dere seus pen­sa­mentos. Tente lem­brar o que está “pas­sando pela sua mente”. Estes pen­sa­mentos po­derão ser sua re­ação “au­to­má­tica” a al­guma coisa que acabou de acon­tecer um co­men­tário ao acaso de um amigo, ter re­ce­bido uma conta no cor­reio, o co­meço de uma dor de estô­mago, uma fan­tasia. Você pro­va­vel­mente vai achar que estes pen­sa­mentos são muito ne­ga­tivos e que você acre­dita neles.
(5) Tente cor­rigir seus pen­sa­mentos, “res­pon­dendo” cada de­cla­ração ne­ga­tiva que fez a si mesmo com uma de­cla­ração mais po­si­tiva e equi­li­brada. Você verá que não so­mente es­tará en­ca­rando a vida de ma­neira mais re­a­lista mas que se sen­tirá me­lhor.
Uma dona de casa es­tava se sen­tindo me­lan­có­lica e aban­do­nada porque ne­nhuma de suas amigas lhe havia te­le­fo­nado fazia al­guns dias. Quando pensou a res­peito, se deu conta que Maria es­tava no hos­pital, que Joana es­tava fora da ci­dade e que a He­lena tinha de fato li­gado. Ela subs­ti­tuiu o pen­sa­mento ne­ga­tivo: “Estou aban­do­nada”, por esta ex­pli­cação al­ter­na­tiva e co­meçou a se sentir me­lhor.
(6) A Téc­nica da Dupla Co­luna. Es­creva seus pen­sa­mentos au­to­má­ticos e ir­ra­ci­o­nais numa co­luna e suas res­postas aos pen­sa­mentos au­to­má­ticos numa se­gunda co­luna. (Exemplo: O João não ligou. Ele não me ama. Res­posta: Ele está muito ocu­pado e acha que estou me­lhor do que na se­mana pas­sada então ele não pre­cisa se pre­o­cupar co­migo.)
(7) Re­sol­vendo Pro­blemas Di­fí­ceis. Se um tra­balho em par­ti­cular que pre­cisa fazer lhe pa­rece ser muito com­plexo e tra­ba­lhoso, tente es­crever cada passo que pre­cisa tomar para poder exe­cutá-lo e tome então apenas um passo cada vez. Pro­blemas que pa­recem in­so­lú­veis podem ser do­mi­nados se forem se­pa­rados em uni­dades me­nores e mais ma­ne­já­veis.
Se você se sente preso a só uma ma­neira de re­solver um pro­blema e não esta pro­gre­dindo, tente es­crever ma­neiras di­fe­rentes e al­ter­na­tivas de lidar com o pro­blema. Per­gunte a ou­tras pes­soas como elas en­fren­ta­riam esta di­fi­cul­dade. Nós cha­mamos ma­neiras al­ter­na­tivas de en­carar e re­solver pro­blemas de “Te­rapia Al­ter­na­tiva”.

Psicoterapia

Seu psi­co­te­ra­peuta pode ajudá-lo a iden­ti­ficar e cor­rigir suas idéias ir­re­a­listas e pen­sa­mentos que lhe fazem chegar a con­clu­sões er­rô­neas sobre si mesmo e os ou­tros. Ele ou ela também podem lhe ajudar a ima­ginar ma­neiras para lidar mais efi­caz­mente com pro­blemas reais de todo dia. Com a ori­en­tação dele ou dela e com seu pró­prio es­forço, você terá uma boa chance de se sentir me­lhor. E você pode aprender a res­ponder com menos de­pressão e so­fri­mento quando se de­parar com di­fi­cul­dades no fu­turo.

Tra­dução de Ber­nard Rangé
AARON T. BECK, M.D. e RUTH L. GRE­EN­BERG, A.B.<