O sistema de inibição comportamental - Ansiedade


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A existência de um sistema de inibição comportamental foi postulada entre os anos de 1982 e 1987, por um grupo de pesquisadores liderado por Jeffrey Alan Gray, um psicólogo inglês nascido em 1934. De maneira resumida, o sistema de inibição comportamental é composto pelas seguintes estruturas cerebrais: formação septo-hipocampal, circuito de Papez (composto pelo corpo mamilar do hipotálamo, tálamo anteroventral e córtex do giro cíngulo), córtex pré-frontal, além das vias de neurotransmissão de noradrenalina, dopamina e serotonina ascendentes que inervam essas estruturas.

Segundo o postulado de Gray, esse sistema seria ativado por estímulos condicionados, ou seja, estímulos que adquirem propriedades aversivas por meio do condicionamento. Assim, de acordo com essa teoria, a ansiedade seria devido à ativação deste sistema por estímulos, como:

-Sinais condicionados de punição (estímulos neutros que adquirem a propriedade de indicar a presença de um evento aversivo);

-Sinais condicionados de frustração (associados com a omissão de uma recompensa esperada, física ou psicológica);

-Estímulos ou situações que representem novidade;

-Sinais de perigo espécie-específicos.

As estruturas cerebrais que constituem o sistema de inibição comportamental agem, portanto, no sentido de receber as informações a respeito do ambiente em torno e da ameaça presente, elaborar os próximos passos a serem dados pelo indivíduo e funcionar como um sistema de alarme. Portanto, os efeitos diretos da ativação do sistema de inibição comportamental estão relacionados, como o próprio nome diz, à inibição do que o indivíduo está fazendo em prol do aumento da vigilância. Ou seja, de maneira simplificada, os efeitos da ativação deste sistema são: a inibição de qualquer comportamento que esteja sendo realizado; o aumento do nível de vigilância e de atenção, principalmente voltadas para estímulos que representem ameaça; e o preparo para uma ação vigorosa em caso de necessidade.

Evidências experimentais indicam que o complexo formado pelo septo e pelo hipocampo, chamado formação septo-hipocampal, desempenhe um papel de destaque no funcionamento do sistema de inibição comportamental. Lesões desta formação causam alterações comportamentais em animais de laboratórios semelhantes às alterações causadas pela administração de agentes ansiolíticos do tipo benzodiazepínicos, quando avaliados em baterias de testes de aprendizagem. Além dessas evidências, resultados de estudos eletrofisiológicos levaram Gray a sugerir que a formação septo-hipocampal fosse o componente determinante do sistema de inibição comportamental e que seu funcionamento seria facilitado pelas aferências noradrenérgicas e serotonérgicas provenientes de outras regiões cerebrais, principalmente de uma região chamada mensencéfalo.

De acordo com diferentes autores, o papel da formação septo-hipocampal seria o de organizar os dados, tanto os recebidos quanto os armazenados na memória, bem como compará-los. A partir dessa organização, o córtex pré-frontal teria condições de analisar ou criar os planos comportamentais mais adequados. Supondo que as informações recebidas pela formação septo-hipocampal sejam coerentes com o que já se vivenciou e que tenham sido consideradas não ameaçadoras, o comportamento normal do indivíduo continua a ser realizado. No entanto, quando o septo e o hipocampo detectam uma incoerência entre o estímulo que está sendo apresentado e o que já está armazenado na memória, inicia-se a ativação do sistema de inibição comportamental.

O comportamento permanece inibido até que o cérebro tenha condições de avaliar se os estímulos potencialmente ameaçadores detectados pela formação septo-hipocampal, juntamente com as demais estruturas moduladoras do sistema de inibição comportamental, apresentam-se realmente ou não. No caso de, em última e detalhada análise, não representarem um perigo real, o sistema de inibição comportamental vai sendo desativo e o indivíduo volta a desempenhar suas atividades normalmente. Entretanto, se a avaliação de risco detectar a presença real de um estímulo ameaçador, inicia-se a participação do Sistema Cerebral de Defesa.

Considerando, portanto, os tipos de sinais que ativam o sistema de inibição comportamental, é razoável aceitar que, por exemplo, quando o seu celular toca e no visor você vê que trata-se de uma ligação do seu chefe (estímulo condicionado que significaria mais trabalho), é o sistema de inibição comportamental que está sendo ativado. Embora este seja apenas um exemplo anedótico, fornece a real dimensão dos processos capazes de ativar o funcionamento deste sistema.

A ansiedade possui uma função adaptativa à medida que prepara o indivíduo para situações nas quais podem ser difíceis. Funcionando como uma motivação para que o indivíduo providencie o que é necessário para evitar o perigo ou a ameaça, ou pelo menos para reduzir suas consequências, o que aumentaria suas chances de sucesso. Portanto, a ativação normal do sistema de inibição comportamental, em última análise, é favorável ao indivíduo em função de prepará-lo melhor para uma ação necessária. No entanto, acredita-se que seja justamente quando ocorre a ativação desnecessária, intensa e contínua deste sistema, geralmente voltada a estímulos que não representam uma ameaça, que surge o quadro de ansiedade patológica, prejudicando o desempenho geral do indivíduo.

Os fármacos utilizados na clínica como ansiolíticos, empregados em quadros de ansiedade diagnosticados como patológicos (como o diazepam, o midazolam e o alprazolam) atuam prejudicando o funcionamento do sistema de inibição comportamental. No caso dos transtornos de ansiedade, portanto, ao agir prejudicando o funcionamento deste sistema, os medicamentos ansiolíticos produzem os efeitos ansiolíticos esperados: diminuem a inibição do comportamento, fazendo com que o indivíduo consiga desempenhar suas atividades de forma normal; diminuem o nível exagerado de vigilância; e reduzem a imobilidade tensa.


Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO