Como ir além do currículo tradicional para achar boas vagas e ser notado



Internet é aliada para construir uma identidade profissional e se destacar no mercado

AMANDA POLATO
currículo joyce (Foto: Reprodução)
Em busca de um bom emprego, Joyce Duarte de Oliveira, de 27 anos, se cadastrava em sites de vagas e disparava currículos por e-mail. Ela e todos os seus concorrentes. “Eu percebi que, apenas com o currículo em Word, eu não conseguia me destacar e não tinha tanto retorno. Então, decidi fazer uma página na internet inspirada no perfil do Facebook”, diz. A opção pelo formato foi feita para aliar a nova estratégia de divulgação às suas áreas de expertise, marketing digital e redes sociais. Joyce não abandonou o currículo tradicional. Quando necessário, o envia junto com o link. Mas a grande diferença é que, agora, muitas empresas a encontram e entram em contato. “Usar formatos digitais já demonstram meu engajamento na área e criatividade”, afirma a jovem.

A maneira de procurar emprego e selecionar candidatos para uma vaga está mudando. Anúncios de oportunidades e envio de currículos nem sempre são estratégias eficientes tanto para empresas quanto para profissionais. Muitas consultorias de recursos humanos (RH) não estão interessadas em receber centenas de currículos semelhantes e fazer demorados processos seletivos. “As empresas querem caçar um determinado perfil, e a internet pode facilitar a prospecção de talentos”, diz Adriana Gomes, coordenadora do núcleo de gestão de pessoas da ESPM. Para profissionais, a web oferece duas possibilidades importantes: criar e manter uma rede de contatos, e encontrar novas formas de se apresentar profissionalmente, como faz Joyce. Analistas de RH dizem que o currículo tradicional não deve desaparecer tão cedo, mas a tendência é que ele perca espaço, em especial em áreas ligadas a tecnologia, arquitetura, arte e comunicação. Nesses casos, em um primeiro momento, vale mais saber o que o candidato é capaz de fazer do que a escola onde ele estudou inglês. “As fontes online vêm para agregar aos processos seletivos. Fazer blog, site e perfil em redes sociais ajuda o profissional a se aproximar das empresas”, afirma Manoela Costa, gerente da consultoria de RH Page Talent.

Eloisa Ataíde Rosendo da Silva, de 21 anos, é formada em design gráfico e diz que, na sua área, é impossível conseguir trabalho sem um belo portfólio na internet. “É preciso mostrar o que você já fez, de que projetos participou, em que empresas trabalhou ou para quais clientes.” A jovem não é dona de empresa, mas criou uma marca para si. O portfólio dela se chama “E de Elefante”, e tem o desenho do animal como símbolo. A mesma referência aparece no seu cartão de visitas e seus perfis nas redes sociais Instagram, Facebook e Pinterest.
Para ela, mesmo quem é de outras áreas pode aproveitar recursos da web. “Parece que a internet tomou conta do mundo e qualquer presença online é muito válida. Até manter um blog já dá às empresas outra visão sobre você.” 

Como criar uma identidade profissional

Para se destacar na internet, há vários recursos disponíveis. O mais conhecido é o LinkedIn, rede social exclusiva para profissionais, que conta com perfis de 10 milhões de brasileiros. Osvaldo Barbosa de Oliveira, diretor-geral do site no Brasil, diz que a missão é reconectar profissionais de todo o mundo e torná-los produtivos e bem-sucedidos. A rede permite a criação de um perfil com foto, lista de experiências e qualificações, além de recomendações de outros profissionais.

Atualmente, 150 empresas no Brasil usam o site para recrutar funcionários. “As empresas de RH estão descobrindo as vantagens de ir atrás dos candidatos. [Com a busca de perfis no LinkedIn], além de alcançar os 20% que estão procurando emprego, você vai alcançar outros 65% de profissionais que estão trabalhando, mas estão dispostos a ouvir outra oportunidade”, diz. Leia a entrevista de Oliveira a ÉPOCA e dicas do diretor para montar um bom perfil no LinkedIn.

A Whirlpool, dona de marcas como Brastemp e Consul, é uma delas. Cerca de dez contratações foram feitas em três meses via LinkedIn, e a perspectiva é ampliar o uso. “Estamos gostando da experiência, porque o site tem filtros eficientes que permitem buscas mais direcionadas. É possível procurar por cargos, experiências ou presença em comunidades”, afirma Fernanda Leal, gerente de desenvolvimento organizacional Whirlpool. Para ela, a presença de um profissional na internet, seja em redes sociais como o LinkedIn, com portfólio ou projeto digital, pode ser mais um fator de diferenciação para a contratação. 
Deve ser lançada em breve uma nova rede profissional, chamada Mepedia. Desenvolvida pelo guru do marketing nos EUA Tom Hayes, o site promete ser um espaço para jovens ligados em tecnologia. A ideia é oferecer novos recursos para inovar a forma de se apresentar profissionalmente, seja mostrando interesses pessoais, gráficos de habilidades, músicas ou portfólios digitais.

Para quem já desenvolveu seu portfólio ou pensa em fazer isso, a web oferece “vitrines virtuais” para expor o trabalho. Uma delas é o Be Hance, que permite ter contato com trabalhos do mundo todo, divulgar oportunidades ou se candidatar para vagas.

Há várias plataformas que possibilitam a criação de blogs sem muito esforço, como WordPress e Blogger. Jorge Martins, gerente da divisão de vendas e marketing da consultoria Robert Half, diz que um blog com conteúdo interessante sobre a área de atuação do profissional pode ser um bom cartão de visitas. “Mas é preciso tomar alguns cuidados. Se o blog tem comentários sobre notícias, por exemplo, deve-se evitar tomar posição em questões polêmicas, como política, religião e outros assuntos delicados. E lembrar que opiniões podem ser mal interpretadas”, afirma.