Resumo:
Tomar como base alguns conceitos de filosofia e utiliza - lá para elaboração de
pesquisa, sobre a utilidade da filosofia no dia-a-dia das pessoas e sabermos
qual o nível de conhecimento por parte do estudante universitário sobre
Filosofia. Talvez essa prática venha a contribuir para o desenvolvimento de uma
sociedade mais livre e solidária.
Um dos conceitos que se apropria
ao termo "filosofia" é IMPRATICABILIADE. A filosofia difere das
ciências especiais na medida em que procura oferecer uma imagem do pensamento
humano ou mesmo da realidade, até onde se admite que isso possa ser feito. Mas devemos admitir que até aqui a filosofia
não tenha conseguido realizar suas grandes pretensões. Tampouco tem logrado
êxito em produzir um corpo de conhecimentos consensual comparável ao elaborado
pelas diversas ciências. Isso se deve em parte, embora não integralmente, ao
fato de que, quando obtemos conhecimento verdadeiro a respeito de determinada
questão situamos essa questão como pertencente à ciência e não à filosofia. O
termo "filósofo" significava originariamente "amante da
sabedoria", tendo surgido com a famosa réplica de Pitágoras aos que o
chamavam de "sábio". Insistia Pitágoras em que sua sabedoria
consistia unicamente em reconhecer sua ignorância, não devendo, portanto ser
chamado de "sábio", mas apenas de "amante da sabedoria".
Nessa acepção, "sabedoria" não se restringia a qualquer dos domínios
particulares do pensamento e, de modo similar, "filosofia" era
usualmente entendida como incluindo o que hoje denominamos "ciência".
Esse uso sobrevive ainda hoje em expressões como "filosofia natural".
Na medida em que uma grande produção de conhecimento especializado em um dado
campo ia sendo conquistada, o estudo desse campo se desprendia da filosofia,
passando a constituir uma disciplina independente. As últimas ciências que
assim evoluíram foram à psicologia e a sociologia. Recusamo-nos a considerar
filosóficas as questões cujas respostas podem ser dadas empiricamente. Os
conceitos fundamentais das ciências, da figuração geral da experiência humana e
da realidade (na medida em que formamos crenças justificadas a seu respeito)
permanecem no âmbito da filosofia, visto que, por sua própria natureza, não
podem ser determinados pelos métodos das ciências especiais. Dois filósofos que
discordem entre si podem estar contribuindo com algo de inestimável valor,
embora ambos não estejam em condição de escapar totalmente ao erro: suas abordagens
rivais podem ser consideradas mutuamente complementares. O fato de filósofos
distintos necessitarem dessa mútua complementação torna evidente que o ato de
filosofar não é unicamente um processo individual, mas também um processo que
possui uma contrapartida social. As discussões filosóficas da teoria do
conhecimento têm exercido, ainda que de modo indireto, importante efeito sobre
as ciências.
Há uma questão que muita gente
formula de imediato quando ouve falar de filosofia: qual a utilidade da
filosofia? Não há certamente expectativa alguma de que ela contribua para a
produção de riqueza material. Contudo, a menos que suponhamos que a riqueza
material seja a única coisa de valor, a incapacidade da filosofia de promover
esse tipo de riqueza não implica que não haja sentido prático em filosofar. Não
valorizamos a riqueza material por si própria, mas por contribuir para nossa
felicidade. Não resta dúvida de que uma das mais importantes fontes de felicidade,
ao menos para os que podem apreciá-la, consiste na busca da verdade e na
contemplação da realidade; eis aí o objetivo do filósofo. Visto que a maior
parte dos bens que a indústria produz, excetuando os que suprem nossas
necessidades básicas, valem apenas como fonte de prazer, torna-se a filosofia
perfeitamente apta, no que se refere à utilidade, para competir com a maioria
dos produtos industriais, quando poucos são os que podem dedicar-se, em tempo
integral à tarefa de filosofar. Mesmo que entendêssemos a filosofia como fonte
de um inocente prazer particularmente válido por si próprio (obviamente, não
apenas para os filósofos, mas também para todos aqueles a quem eles ensinam e
influenciam), não haveria razão para invejar tão pequeno desperdício da força
humana dedicada ao filosofar.
Qualquer valor que damos a
Filosofia intrinsecamente acima de seus efeitos, essa tem exercido, por mais
que ignoremos isso, uma admirável influência indireta até mesmo sobre a vida de
gente que nunca ouviu falar nela. Indiretamente, tem sido destilada através de
sermões, da literatura, dos jornais e da tradição oral, afetando assim toda a
perspectiva geral do mundo. Em grande parte, foi através de sua influência que
se fez da religião cristã o que ela é hoje. No âmbito da política, a influência
das concepções filosóficas tem sido expressiva. Nesse sentido, a Constituição
norte-americana é, em grande parte, uma aplicação das idéias do filósofo John
Locke; ela apenas substitui o monarca hereditário por um presidente. Similarmente,
admite-se que as idéias de Rousseau tenham sido decisivas para a Revolução
Francesa de 1789. Se uma filosofia de má qualidade pode exercer influência
nefasta sobre a política, com as filosofias de boa qualidade pode ocorrer o
contrário. Não há meios de impedir tais influências sendo, portanto
extremamente oportunos que dediquem especial atenção à filosofia com o intuito
de constatar se concepções que exerceram alguma influência foram mais positivas
do que nefastas. O mundo teria sido poupado de muitos horrores caso os alemães
tivessem sido influenciados por uma filosofia melhor que a dos nazistas.
Torna-se, portanto, imperativo
abandonar a afirmação de que a filosofia é destituída de valor, mesmo com
respeito à riqueza material. Uma boa filosofia, ao influenciar favoravelmente a
política, pode gerar uma prosperidade incapaz de ser alcançada sob a égide de
uma filosofia inferior. Igualmente, o expressivo desenvolvimento da ciência,
com seus conseqüentes benefícios de ordem prática, muito depende de seu background
filosófico. A idéia de causalidade faz parte do objeto da filosofia. A própria
‘perspectiva científica’, em grande parte, foi introduzida inicialmente pelos
filósofos.
Todavia, certamente não estaremos
nas melhores condições para fazer um estudo proveitoso da filosofia se a
encararmos principalmente como uma via indireta de acesso à riqueza material. A
principal contribuição da filosofia consiste no intangível background
intelectual do qual muito dependem o clima espiritual e a feição geral de uma
civilização. Whitehead, um dos mais expressivos e acatados pensadores modernos,
descreve os dons da filosofia como "a capacidade de ver e de prever,
aliada a um sentido do valor da vida, ou seja, o sentido da importância que
anima todo esforço civilizado". Para ele, a filosofia consiste em
"uma tentativa de esclarecer as crenças que, em última instância,
determinam nossa atenção, a qual integra a base de nosso caráter". Até
pouco tempo, para a maioria das pessoas, essa concepção era proporcionada pelo
ensino religioso, mas as próprias concepções religiosas foram muito
influenciadas pelo pensamento filosófico. Ademais, a experiência demonstra que
as concepções religiosas podem conduzir-nos à loucura, a menos que sejam
continuamente submetidas a uma avaliação racional.
Embora não possa substituir a
filosofia, a ciência suscita problemas filosóficos. Pois ela não pode dizer-nos
que lugar ocupa os fatos com que lida no esquema geral das coisas, não
conseguindo nem mesmo esclarecer suas relações com os espíritos que os
observam. Nenhum laboratório científico pode demonstrar em que sentido os
homens têm uma alma, se o universo tem ou não um propósito, se, e em que
sentido, somos livres, e assim por diante. Não desejamos com isso sugerir que a
filosofia possa resolver esses problemas; no entanto, se ela realmente não puder
nada mais poderá faze-ló, sendo certamente válido tentar descobrir ao menos se
tais problemas podem ser solucionados. Mesmo as melhores conquistas da ciência
moderna não teriam sido alcançadas se os cientistas não tivessem adotado
determinadas suposições de grandes e originais filósofos, nas quais basearam
todo o seu proceder. Por ter ocasionado maravilhosos resultados, o esquema
mecanicista de Descartes, deve ser em parte, verdadeiro, ainda que parcialmente
inadequado, apressando-se o cientista em buscar no filósofo o necessário
auxílio para erigir novo esquema que possa substituir o antigo.
Um segundo serviço inestimável
prestada pela filosofia (especialmente pela "filosofia crítica")
reside no hábito, por ela estimulado, de promover-se um julgamento imparcial
considerando-se todas as facetas de uma questão, e na idéia que ela oferece do
que seja a evidência e de que devemos buscar ou esperar de uma prova. Pode ser
esse um importante questionamento das inclinações emocionais e das conclusões
precipitadas, se ambos os lados considerassem suas diferenças políticas munidos
de espírito filosófico, dessa forma seria difícil admitir a eventualidade de
uma guerra. O sucesso da democracia depende muito da habilidade dos cidadãos em
distinguir um bom de um mau argumento, não se deixando enganar por confusões. A
filosofia crítica estabelece um padrão ideal para o raciocínio correto e
capacita quem a estuda a remanejar argumentos confusos.
Na medida em que admitirmos que
certa cautela seja desejável ao afirmarmos que os homens não deixam de viver de
acordo com uma filosofia na qual acreditam, e enquanto atribuirmos a maior
parte dos desacertos humanos exatamente à falta desse desejo de sintonia com
ideais mais nobres, não poderemos negar a extrema relevância de crenças gerais
a respeito da natureza do universo e do bem para a determinação do progresso ou
da degeneração da humanidade. Conta-se que um cientista, que costumava
jactar-se de desprezar a dimensão prática de toda pesquisa, disse certa vez a
respeito de uma: "O melhor disso tudo é que ela possivelmente não revelará
qualquer utilidade prática para quem quer que seja." Todavia, essa linha
de pesquisa acabou levando à descoberta da eletricidade. De modo similar,
estudos filosóficos por demais acadêmicos e aparentemente destituídos de
utilidade prática terminam por exercer profunda influência sobre a visão de
mundo, chegando até mesmo a afetar, em última instância, a ética e a religião
que adotamos. Sendo assim, conceitos à primeira vista muito distanciados de
qualquer interesse de ordem prática podem vir a afetar de modos vitais outros
conceitos que envolvem mais de perto a vida diária.
Podemos compreender agora o motivo
pelo qual a filosofia não precisa recear a questão de ter ou não valor prático.
A filosofia merece ser valorizada por si própria, e não por seus efeitos
indiretos de ordem prática. Para encontrar a verdade, precisamos buscá-la
desinteressadamente. E o fato de a encontrarmos se revelará muito útil do ponto
de vista prático. As crenças são úteis porque são verdadeiras, e não
verdadeiras porque são úteis.
FILOSOFIA E DISCIPLINAS AFINS
É difícil separar a lógica da
epistemologia. Mesmo assim, ela é normalmente considerada uma disciplina
autônoma. Trata-se de um estudo dos diferentes tipos de proposições e de suas
relações que justificam uma inferência. Certas partes da lógica revelam
acentuada afinidade com a matemática; outras poderiam igualmente ser
classificadas como pertencentes à epistemologia.
A ética ou filosofia moral lida
com os valores e a problemática do "dever". Ela formula questões
como; Qual o bem supremo? Qual a definição de bem? A retidão de um ato depende
unicamente de suas conseqüências? Nossos juízos sobre nossos próprios deveres
são subjetivos ou objetivos? Qual a função de um ato punitivo? Qual a razão
última pela qual não devemos mentir?
A filosofia política consiste na
aplicação da filosofia (da ética principalmente) a questões relacionadas com os
indivíduos enquanto organizados sob a égide de um Estado. Ela investiga
questões do seguinte tipo: Um indivíduo possui direitos que contrariam os
interesses do Estado? Há no Estado algo mais além dos indivíduos que o
constituem? É a democracia a melhor forma de governo?
A estética consiste na aplicação
da filosofia ao exame da arte e da noção de beleza. É típico de a estética
formular questões do seguinte tipo: A beleza é objetiva ou subjetiva? Qual é a
função da arte? Para que aspectos de nossa natureza apelam às diversas formas
de beleza?
Bibliografia
Whitehead, A. C.: The Function of Reason,
(texto escaneado por Marco Antonio Frangiotti de Ewing, A. C. (1984):
As Questões Fundamentais da Filosofia, Rio de Janeiro: Zahar, pgs. 11-25) .manhut.
Cristiano Lima
www.cristianolima.net