Apesar de
escrito há mais de oito décadas, a obra EU e o ISSO traz uma série de questões
inovadoras retiradas do quesito mais conservador para o meio social: a
sexualidade, calabouço escuro e silencioso, cujas implicações levam a um alto e
talvez falso conservadorismo.
A razão estava
ao lado de Freud quando este delineou três instâncias da mente a fim de fazer
uma ligação da libido com o psiquismo. Isso , Eu e SuperEu correspondem a uma
tríade que comanda a teia de processos capazes de dar mobilidade a nossa vida.
De fato, todos temos recalques, elegemos
objetos de amor para derramarmos nossa libido exercemos as percepções que nos
são possíveis e acatamos as proibições que desde cedo, tornaram-se decretadas.
Considerar o Eu
duplamente caracterizado foi o mesmo que promover uma significante remodelação
em toda a dinâmica psíquica. Partindo do pressuposto que a instancia referida
possui, também, um viés inconsciente, Freud abrangeu as resistências e o
recalcado, que se funde no Eu e é exposto através da fala, protegido pelo fato
de não nos darmos conta disso.
É
cotidianamente fácil evidenciar essa situação quando, por exemplo, conversamos
com alguém que insiste em várias vezes num assunto que leva a um outro, mais importante
e núcleo de seu desejo e , mesmo sob o alerta do que faz, a pessoa não consegue
estabelecer um entendimento ou aceitação do fato. Assim o Eu resiste,
protegendo o recalque.
O complexo de
Édipo tem um imprescindível papel em toda essa trama, pois a partir dele é que
são iniciadas as identificações e a bissexualidade que segundo Freud é inerente
a todos nós. Esta terá a prevalência da masculinidade ou feminilidade,
dependendo de que figura parental a criança escolheu se identificar. Já que não
suportaríamos conviver com as cenas de nossa infância perversa, o SuperEu nos
serve como um inquisidor cuja a função é reprimir o complexo de Édipo. Quando
há a dissolução da citada fase a cultura passa a fazer parte do sujeito em
formação e outros tipos de autoridade irão exercer o papel do pai no que concerne
à censura moral. Realmente, entramos em concordância com a teoria Freudiana à
medida que percebemos o sentimento de culpa ligado à força do SuperEu , relacionada à obediência , à autoridade.
Todavia, nossa ótica para isso não leva em consideração o fato de a exigência
do SuperEu ser somente ligada à libido, ao desejo sexual, ao prazer em sua via o
mais carnal possível. Respeitosamente , pedimos licensa a Freud para discordar,
pois apesar de encontrarmos sentido em seu trabalho nossa compreensão se deu
com algumas lacunas, já que não enxergamos o ser humano como ser total e
completo dominado por suas pulsões sexuais. Ainda que nossa ótica possa ser
considerada uma resistência , podemos supor que o nosso eu consciente não é tão
pequeno nem tão perturbado com as muitas obrigações que tem e, em vez de
resistir a uma idéia que subitamente
remete a uma contravenção, ele simplesmente se filia à cultura sexual do
Isso, e à educação para, conscientemente, discernir sobre o que é válido ou não
para nós. Como dissemos há pouco, trata-se apenas de uma suposição, de um
pensamento os quais Freud sempre relatou e até modificou em muitas das páginas
de sua teoria psicanalítica.