Cristiano Nabuco
Já não é de hoje que sabemos a respeito da importância de se fazer uma “boa” psicoterapia em certas fases ou momentos de vida. Muito embora exista atualmente um número bastante expressivo de abordagens disponíveis no mercado (mais de 850 em uma última contagem), algumas delas frequentemente são mais estudadas e, por isso, amplamente testadas em relação à sua eficácia terapêutica.
Nesse sentido, algumas linhas são consideradas mais indicadas em função de sua eficácia (capacidade de mudança), efetividade (duração da mudança) e, finalmente, por sua rapidez. Segundo uma publicação internacional intitulada “Evidências Clínicas” – um manual comparativo das variadas intervenções, – a terapia cognitiva é, segundo pesquisas, denominada como padrão-ouro e recomendada como a primeira opção de tratamento em quase 85% dos transtornos psiquiátricos.
O que é a terapia cognitiva?
Essa abordagem tem uma premissa central de que não são as situações que causam nossos problemas cotidianos, mas sim a forma como enxergamos as coisas. Eu explico: um dos pontos centrais que estão presentes nos períodos de desequilíbrio é a forma com que uma pessoa interpreta as situações de vida.
Nossos pensamentos, assim, quando ativados de maneira irracional, interferem em nosso funcionamento psicológico, podendo alterar dramaticamente a forma de reação de uma pessoa, o que obviamente também cria efeitos sobre o comportamento.
Imagine, por exemplo, uma pessoa que acredita que as situações sociais são, naturalmente, “muito ruins e constrangedoras”. Essa pessoa, em função desse seu pensamento desadaptativo, possivelmente irá experimentar doses maiores (do que seria esperado) de medo, fazendo então com que as situações públicas futuras sejam ainda mais evitadas. Como consequência, tal indivíduo irá comportar-se de forma cada vez mais fechada, reforçando, sem perceber, sua inabilidade social.
O resultado? Os eventos sociais se tornarão cada vez mais desconfortáveis ao gerar mais constrangimento e desconforto à pessoa. Ao ser observado por terceiros, por exemplo, ela exibirá um comportamento de esquiva, afastando e inibindo possíveis tentativas de contato e fazendo com que, ao final das contas, permaneça ainda mais sozinha, reforçando, portanto, sua ideia (ou crença) inicial de inabilidade social.
Como trabalha a terapia cognitiva?
A terapia cognitiva irá trabalhar no aqui e no agora junto aos pensamentos irracionais que um paciente relata e tentará, através de técnicas específicas, alterar o ciclo de interpretações viciadas – por isso então sua rapidez e efetividade enquanto modelo terapêutico.
Os padrões irracionais de pensamento (ou também chamados de “crenças”) são originários junto ao desenvolvimento infantil e se tornam uma poderosa lente interpretatória aos distorcer muitos dos significados pessoais.
Dessa forma, a psicoterapia é estruturada em forma de um plano de tratamento, de maneira a facilitar, para que o paciente comece a perceber, identificar esses erros de interpretação que se tornam disfuncionais. Anotações e diários de pensamento são encorajados como forma auxiliar desse processo de conscientização e de mudança individual.
Como a terapia cognitiva afeta o cérebro?
Padrões de ativação cerebral são observados em indivíduos que passam por sessões de terapia cognitiva. Dessa forma, ao se modificar os estilos de pensamento e de comportamento de um paciente, exames de PET-SCAN (tomografia computadorizada por emissão de pósitrons) indicam que tais mudanças podem levar a alterações metabólicas significativas no cérebro de pacientes, por exemplo, que apresentam depressão maior ou transtorno obsessivo-compulsivo.
Portanto, mudar a mente através da terapia cognitiva, produz mudanças inevitáveis no cérebro, segundo um artigo publicado no periódico internacionalNeuroImage.
Além do mais, estudos têm mostrado que essa forma de terapia é, pelo menos, tão eficaz como é o medicamento para muitos tipos de transtornos de ansiedade e de humor (depressão).
Conclusão
Assim sendo, desenvolver formas mais realistas de avaliar a realidade é um dos pontos centrais da terapia cognitiva.
Assim, quando aprendemos a aceitar mais calmamente um problema pessoal, não só nos sentimos melhor, mas geralmente estamos aptos a colocá-lo mais em perspectiva e em uma posição para fazer uso de nossa inteligência, conhecimento, energia e recursos para resolver a situação.
Se você ainda não fez um trabalho como a terapia cognitiva propõe, eu lhe recomendo: faça pelo menos uma vez, pois é efetivamente muito interessante.
Fonte: Cristiano Nabuco