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No
campo dos estudos da antropologia e do mito, o trabalho foi levado a diante por
Claude Lévi-Strauss, no período imediato à II Guerra Mundial, que divulgou e
introduziu os princípios do estruturalismo para uma ampla audiência, alcançando
uma influência quase que universal, fazendo com que o seu nome, o de
Lévi-Strauss, não só se confundisse com o estruturalismo como se tornasse um
sinônimo dele. O estruturalismo virou "moda" intelectual nos anos 60
e 70. Os livros dele ("O Pensamento Selvagem", Tristes Trópicos,
Antropologia estrutural, As estruturas elementares do parentesco), tiveram um
alcance que transcendeu em muito aos interesses dos especialistas ou curiosos
da antropologia Desde aquela época o estruturalismo de Lévi-Strauss tornou-se
referência obrigatória na filosofia, na psicologia e na sociologia. De certo
modo, ainda que respeitando a indiferença dele pela história ("o etnólogo
respeita a história, mas não lhe dá um valor privilegiado", in O
Pensamento Selvagem, 1970, pag.292), pode-se entender a antropologia
estrutural como um método de tentar entender a história de sociedades que não a
têm, como é o caso das sociedades primitivas.
A
valorização das narrativas mitológicas
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Enquanto
a ciência racionalista e positivista do século XIX desprezava a mitologia, a
magia , o animismo e os rituais fetichistas em geral, Lévi-Strauss entendeu-as
como recursos de uma narrativa da história tribal, como expressões legitimas de
manifestações de desejos e projeções ocultas, todas elas merecedoras de serem
admitidas no papel de matéria-prima antropológica. Como é o caso do seus
estudos sobre o mito (Mythologiques) , cuja narrativa oral corria da
esquerda para a direita num eixo diacrônico, num tempo não-reversível, enquanto
que a estrutura do mito (por exemplo o que trata do nascimento ou da morte de
um herói), sobe e desce num eixo sincrônico, num tempo que é reversível. Se bem
que eles, os mitos, nada revelavam sobre a ordem do mundo, serviam muito para
entender-se o funcionamento da cultura que o gerou e perpetuou. A mesma coisa
aplica-se com o totemismo, poderoso instrumento simbólico do clã para reger o
sistema de parentesco, regulando os matrimônios com a intenção de preservar o
tabu do incesto (cada totem está associado a um grupo social determinado, a uma
tribo ou clã, e todo o sistema de casamentos é estabelecido pelo entrecruzar
dos que filiam-se a totens diferentes). O objetivo dele era provar que a
estrutura dos mitos era idêntica em qualquer canto da Terra, confirmando assim
que a estrutura mental da humanidade é a mesma, independentemente da raça,
clima ou religião adotada ou praticada. Contrapondo o mito à história ele
separou as sociedade humanas em “ frias” e “quentes”, formando então o seguinte
quadro delas:
Sociedades "frias" (primitivas)
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Sociedades "quentes" (civilizadas)
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Encontram-se "fora da história", orientando-se pelo
modo mítico de pensar, sendo que o mito é definido como "máquinas de
supressão do tempo".
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Movem-se dentro da história, com ênfase no progresso, estando em
constante transformação tecnológica
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Partindo-se das idéias de Saussure e do lingüista Roman Jakobson, e do
antropólogo Lévi-Strauss, especificaram-se quatro procedimentos básicos ao
estruturalismo:
- Primeiro, a análise estrutural examina as infra-estruturas inconscientes dos
fenômenos culturais;
- em segundo, considera os elementos da infra-estrutura como
"relacionados," não como entidades independentes;
- em terceiro lugar, procura entender a coerência do sistema;
- e quarta, propõe a contabilidade geral das leis para os testes padrões
subjacentes no sentido da organização dos fenômenos.
A
importância da narrativa
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Nos
estudos humanísticos e literários em geral , o estruturalismo foi aplicado o
mais eficazmente no campo do "narradologia." Esta disciplina, ainda
nascente, estuda todas as narrativas, se elas ou não usam a língua, os mitos,
as lendas, as novelas, a circulação das notícias, historias, esculturas de
relevo e janelas, as pantominas e os estudos de caso psicológicos. Usando
métodos e princípios do estruturalismo, os narradologistas analisam as
características e as funções sistemáticas das narrativas tentando estabelecer e
isolar um jogo de regras finito para esclarecer o jogo infinito de narrativas
reais e possíveis.
Começando nos 1960s, o crítico francês Roland Bartes e diversos outros
narradologistas franceses, popularizaram o método, que tem desde então
transformado um método de análise importante também nos Estados Unidos também.
Estruturalismo,
marxismo e freudismo
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Totem
, símbolo clânico
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Ao
avaliar as estruturas profundas, subjacentes, que se ocultam por detrás dos
fenômenos, escapando do primeiro olhar humano, o estruturalismo aproxima-se das
visões de Marx (a infra-estrutura econômica)e Freud (o poder do inconsciente).
Ambos, como se sabe, entendiam os fenômenos sociais ou comportamentais como
obrigatoriamente condicionados por forças impessoais (o Capitalismo, o
Superego), deslocando, desde então, o problema do estudo da consciência ou das
escolhas individuais para um quadro bem mais amplo, dos macro-sistemas. Ao
contrário da ciência de inclinação liberal, para as correntes citadas acima, o
indivíduo pouco contava. Tal como o marxismo e o freudismo, o estruturalismo
diminui a importância do que é singular, subjetivo, individual, retratando o
ser, a pessoa humana, como resultante de uma construção, a conseqüência de
sistemas impessoais (no marxismo o indivíduo é marionete do sistema
capitalista, na psicanálise, se bem que amparado no ego, ele é regido pelos
impulsos do inconsciente, e na antropologia estrutural pelas relações de
parentesco determinadas pelo totemismo) .
Os indivíduos, por conseguinte, nem produzem nem controlam os códigos e as
convenções que regem e envolvem a existência social deles, sua vida mental ou
experiência lingüística (É o que Marx quis dizer quando afirmou que “ os homens
fazem a história, mas não estão conscientes disso”). Em conseqüência desse
descaso do estruturalismo pela importância da pessoa, ou do assunto, por ter
feito o homem desaparecer na complexa teia da organização social em que nasce e
a que pertence, foi considerado pelos seus críticos como um
"anti-humanismo."
O estruturalismo - em
favor da diversidade cultural
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"A verdadeira contribuição das culturas não consiste numa
lista das suas invenções particulares mas na maneira diferenciada com que elas
se apresentam. O sentimento de gratidão e de humildade de cada membro de uma
cultura dada deve ter em relação a todas as demais não deve basear-se senão
numa só convicção: a de que as outras culturas são diferentes, de uma maneira a
mais variada e se a natureza última das suas diferenças nos escapa...deve-se a
que foram imperfeitamente penetradas.
Se a nossa demonstração é válida não há nem pode haver uma civilização mundial
no seu sentido absoluto, porque civilização implica na coexistência de culturas
que oferecem o máximo de diversidade entre elas, consistindo mesmo nesta
coexistência. A civilização mundial não será outra coisa que a coalizão de
culturas em escala mundial, preservando cada uma delas a sua
originalidade".
Lévi-Strauss - Antropologia estrutural
Bibliografia
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Enciclopédia
de Grolier. (de onde foi tirado o arcabouço deste texto)
Groethuysen, Bernard – "Antropologia Filosófica" (Lisboa,
Presença, 1982
Lévi-Strauss, Claude - "Antropologia Estrutural" (RJ, Tempo
Brasileiro, 1970)
____. "O Pensamento Selvagem" (SP, Nacional, 1976)
____. "As estruturas elementares do parentesco" (Petrópolis,
RJ, Vozes, 1982)
____. "Tristes Trópicos" (Lisboa, Edições 70, 1979)
Malinowski, R. – "Uma teoria científica da cultura" (RJ,
Zahar, 1962)
Cristiano Lima